É surpreendente perceber quanto patrimônio desconhecido existe em São Paulo. Recentemente, descobri um tesouro chamado Fazenda Santa Gertrudes, no interior do estado. A fazenda era o latifúndio Sítio Grande, que pertenceu à família do Barão de Jundiaí, do Conde de Parnaíba e do Conde do Japi. Essas três personalidades têm, em comum, o ímpeto pela modernização. Por isso foram importantes para a história paulista. Foram eles os responsáveis pela construção da ferrovia Mogiana, pelo desenvolvimento da cultura do café no estado e pela troca do trabalho escravo pela mão de obra livre estrangeira – inclusive, construíram a Hospedaria dos Imigrantes do Brás (onde hoje é o Memorial do Imigrante), marco do progresso do país.
Estes momentos históricos estão vivos em cada metro quadrado da Fazenda Santa Gertrudes. A casa principal, por exemplo, é um projeto de Ramos de Azevedo no século 19. Só por isso, já vale uma visita. O zelo com que a proprietária conservou não só os imóveis, mas também o mobiliário e a louça de época é uma demonstração de respeito pela história do país. A fazenda também mantém, ainda originais, os terreiros – espaços onde os grãos de café eram secos -, a tulha, onde o café era estocado e os grãos, separados, e a casa de máquinas, onde ele era processado.
Há ali as moradias de imigrantes, em sua maior parte italianos, que vinham ao Brasil em busca de trabalho. Um dos conjuntos é mantido exatamente como na época. Mas a fazenda da família também guarda uma lembrança do triste período da escravidão. Onde hoje fica a capela, de acordo com os técnicos que estiveram no local, era a antiga casa-sede e, no subterrâneo, a antiga senzala. Conhecer a Fazenda Santa Gertrudes foi, para mim, uma viagem pela história de São Paulo. Em tempo: a proprietária, em um gesto de generosidade e com o objetivo de preservar esse tesouro para o futuro, procurou o Condephaat para pedir o tombamento do imóvel.
Andrea Matarazzo é secretário estadual da Cultura de São Paulo.
Diário de São Paulo
Formador de Opinião